“Interior de Indigentes” (1920), Lasar Segall
Por Sidney Falcão
Lasar Segall (1889-1957) foi um artista de grande relevância no cenário do modernismo brasileiro, tendo contribuído significativamente com suas obras marcadas por uma profunda sensibilidade social e humanitária. Segall desenvolveu um estilo único que combinava influências do expressionismo alemão e do cubismo, refletindo as dores e sofrimentos das pessoas humildes, especialmente em contextos de guerra e opressão.
Nascido em 1889 em Vilna, na Lituânia, Segall veio ao mundo numa época tumultuada quando sua terra natal estava sob o domínio do império russo. Sua infância foi marcada pelas lutas ocorridas na cidade onde nasceu, que foi ocupada por alemães durante a Primeira Guerra Mundial e depois retomada pelos russos. Essa experiência de viver em uma região frequentemente disputada por diferentes poderes influenciou profundamente sua visão de mundo e sua arte.
Em 1913, Lasar Segall esteve brevemente no Brasil pela primeira vez para uma exposição de pintura de vanguarda em São Paulo, que foi muito bem avaliada pela crítica. Dez anos depois mudou-se definitivamente para São Paulo, onde se estabeleceu como uma figura central do modernismo brasileiro. A casa onde viveu com sua esposa, Jenny Klabin (1899-1967), hoje abriga o Museu Lasar Segall.
Interior de Indigentes foi criada em 1920, durante a fase alemã de Segall, quando ele ainda residia em Dresden. Este período foi caracterizado por sua participação no Grupo Secessão de Dresden, que promovia o expressionismo e abordava problemas sociais através da arte. A obra reflete a sensibilidade de Segall às condições miseráveis enfrentadas por muitas famílias após a Primeira Guerra Mundial, marcada por severos racionamentos, traumas, perdas materiais e fome. A pintura expressa a agonia e a desesperança vividas por aqueles que sofreram os horrores da guerra.
Interior de Indigentes demonstra a habilidade de Segall em utilizar técnicas expressionistas para transmitir emoções intensas, por meio da deformação das figuras e o uso de uma paleta sombria que reforçam a atmosfera de sofrimento e desespero. A composição geométrica das formas e a perspectiva múltipla são influências do cubismo e de Paul Cézanne, desestabilizando o olhar do observador e enfatizando a instabilidade psicológica da cena. A mulher em primeiro plano, com sua expressão de agonia e o gesto impotente, personifica o sofrimento das vítimas dos conflitos históricos, enquanto o homem ao fundo simboliza a resignação diante da miséria.
Com uma recepção positiva por parte da, a tela foi considerada uma representação poderosa das condições sociais pós-guerra. Interior de Indigentes foi incorporada ao acervo do MASP (Museu de Arte de São Paulo) em 1950 e é vista como uma peça emblemática do período expressionista de Segall. Sua temática social e o tratamento épico a tornam relevante para a compreensão dos horrores da guerra e das dificuldades enfrentadas pelas populações marginalizadas. A pintura também destaca a capacidade de Segall de abordar questões universais através de uma perspectiva profundamente pessoal e humanitária.
Interior de Indigentes é uma obra que encapsula a
essência do expressionismo de Lasar Segall, combinando técnicas inovadoras com
uma forte mensagem social. Através de suas figuras deformadas e da paleta
sombria, Segall transmite a agonia e a desesperança dos desvalidos, refletindo
seu compromisso com a denúncia das injustiças sociais. A obra permanece um
testemunho poderoso das experiências de sofrimento humano durante e após a
guerra, e destaca a relevância contínua de Segall no contexto da arte moderna e
da luta por um mundo mais justo e humano.
Ficha técnica
Título: Interior de Indigentes
Artista: Lasar Segall
Ano: 1920
Técnica: Óleo sobre tela
Dimensões: 83,5 cm x 68,5 cm
Localização: MASP (Museu de Arte
de São Paulo), São Paulo, Brasil
Referências:
masp.org.br
virusdaarte.net
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