“Impressão, Nascer do Sol” (1872), Claude Monet

Por Sidney Falcão 

No inverno de 1872, Claude Monet (1840-1926), um jovem artista ainda em busca de reconhecimento pleno, estava hospedado no Hôtel de l'Amirauté em Le Havre, cidade portuária de sua infância. Naquela época, Monet tinha 32 anos e fazia parte de um grupo de pintores inovadores que procuravam romper com as convenções rígidas da pintura acadêmica. O contexto histórico era marcado pela Revolução Industrial, que transformava radicalmente as paisagens urbanas e portuárias, trazendo novos modos de vida que também se refletiam na arte e na cultura. 

Claude Monet, inspirado pelas paisagens industriais modernas e influenciado por artistas como William Turner (1775-1851), Johan Barthold Jongkind (1819-1891) E Eugène Boudin (1824-1898), escolheu capturar a cena do porto de Le Havre em uma manhã nebulosa de novembro de 1872. O astrônomo Donald Olson, através de estudos detalhados, conseguiu datar a criação da obra em 13 de novembro de 1872, às 7h35, confirmando a precisão da representação do sol nascente, um elemento crucial na composição da pintura. 

Impressão, Sol Nascente apresenta uma visão matinal do porto de Le Havre, capturada de uma janela do Hôtel de l'Amirauté. A composição horizontal é dividida em terços, com o céu preenchendo o terço superior e o porto nebuloso e a água ocupando os dois terços inferiores. A silhueta de um barco no primeiro plano e o sol laranja brilhando na névoa criam uma cena vibrante e dinâmica, com cores justapostas e pinceladas soltas que capturam a impressão fugaz da luz e do movimento na água. Essa abordagem inovadora contrastava fortemente com a precisão e o acabamento polido da pintura acadêmica. 

Detalhe do retrato do jovem Claude Monet pintado por Auguste Renoir. 

(Claude Monet, 1875, Auguste Renoir, óleo sobre tela, 

Musée d’Orsay, Paris, França)

Quando a pintura foi apresentada ao público na primeira exposição da Société Anonyme des Artistes Peintres, Sculpteurs et Graveurs, realizada no estúdio do fotógrafo Félix Nadar (1820-1910) em Paris, em abril de 1874, causou escândalo. O crítico Louis Leroy (1812-1885), em uma crítica mordaz publicada no jornal Le Charivari, ridicularizou a obra, chamando-a de "impressão" em tom de zombaria. Ele escreveu: "Impressão, eu tinha certeza. Eu pensei, já que estou impressionado, deve haver alguma impressão ali." Essa crítica, apesar de inicialmente negativa, acabou por dar nome ao movimento impressionista, marcando um momento decisivo na história da arte. 

A recepção inicial da obra foi de indiferença e desprezo. Em maio de 1874, a pintura foi vendida por 800 francos ao colecionador Ernest Hoschedé (1837-1891), um grande industrial apaixonado pela arte. No entanto, em 1878, arruinado financeiramente, Hoschedé foi forçado a leiloar sua coleção, e Impressão, Sol Nascente foi vendida por apenas 210 francos, destacando o desinteresse da época pelas obras impressionistas. A pintura foi adquirida por Georges de Bellio (1828-1894), um dos primeiros entusiastas da pintura impressionista, que a legou a sua filha Victorine e seu genro Ernest Donop de Monchy. Eventualmente, a obra foi doada ao Museu Marmottan Monet em Paris, onde foi exibida pela primeira vez em 1946. 

A trajetória da pintura incluiu um episódio dramático em 1985, quando foi roubada do Museu Marmottan Monet junto com outras obras de Monet e Renoir (1841-1919). Após uma investigação de cinco anos, Impressão, Sol Nascente foi recuperada em Porto-Vecchio, na Córsega, onde estava escondida em um apartamento. Este roubo e a subsequente recuperação contribuíram para o aumento de sua fama e o estabelecimento de seu mito. 

Detalhe de Impressão, Sol Nascente.

Impressão, Sol Nascente é notável não apenas por sua técnica inovadora, mas também pela forma como capturou a essência da luz e do movimento. Monet sempre retornou a esses temas em sua carreira, explorando a interação entre água e luz em diversas paisagens. Após estabelecer-se em Giverny em 1883, ele criou jardins exuberantes que alimentaram sua criatividade e contribuíram para algumas de suas obras mais celebradas. 

Celebrando 150 anos, Impressão, Sol Nascente permanece uma obra-prima da arte moderna. Ela não só lançou o movimento impressionista, mas também desafiou e redefiniu os paradigmas artísticos da época, solidificando a visão revolucionária de Monet e seu legado duradouro na história da arte. A obra é agora reverenciada globalmente, comparada à "Mona Lisa" do impressionismo, e continua a inspirar e fascinar amantes da arte em todo o mundo. 

A tela é um testemunho da habilidade de Monet em capturar momentos efêmeros e a beleza passageira da natureza, refletindo seu desejo de pintar o que via e sentia em tempo real. A luz difusa, os reflexos na água e a neblina suave criam uma atmosfera envolvente, transportando o observador para o porto de Le Havre em uma manhã fria de novembro. Este trabalho continua a ser estudado e admirado, não apenas por sua técnica inovadora, mas também pelo seu impacto duradouro no mundo da arte.

Ficha técnica

Título: Impressão, Sol Nascente

Artista: Claude Monet

Ano: 1872

Técnica: Óleo sobre tela

Dimensões: 48 cm × 63 cm

Localização: Museu Marmottan Monet, Paris, França

Referências:

fondation-monet.com

normandie-tourisme.fr

fr.wikipedia.org