“M-Maybe” (1965), Roy Lichtenstein

Por Sidney Falcão 

Uma história em quadrinhos pode ser considerada arte erudita? M-Maybe de Roy Lichtenstein (1923-1997) nos desafia a repensar os limites da arte." Esta pergunta nos leva ao cerne da obra de Lichtenstein, que é mais do que uma simples pintura; é um comentário cultural que encapsula a essência do movimento da arte pop por meio de sua linguagem visual ousada e nuances emocionais. 

Criada em 1965, M-Maybe é uma obra seminal do renomado artista americano Roy Lichtenstein. Utilizando o estilo de quadrinhos que se tornou sua marca registrada, a pintura é um exemplo notável de sua exploração da cultura popular e das imagens da mídia de massa. Este período foi caracterizado por rápidas mudanças sociais, avanços tecnológicos e a ascensão do consumismo, e a obra de Lichtenstein reflete esses temas. 

Roy Lichtenstein emergiu como uma figura central no movimento Pop Art durante a década de 1960. Seu trabalho é caracterizado por uma mistura única de belas artes e cultura popular, desafiando as fronteiras tradicionais da arte. Em 1962, sua carreira foi significativamente impulsionada pela associação com o influente marchand Leo Castelli (1907-1999), que ajudou a solidificar sua reputação no mundo da arte. 

Roy Lichtenstein e suas obras na exposição no Leo Castelli Gallery,
em Nova York, em 1962.
 

M-Maybe apresenta uma mulher loira em primeiro plano, com uma paisagem urbana ao fundo. A obra é dominada por cores primárias, linhas gráficas precisas e o uso meticuloso de pontos Ben-Day, uma técnica de impressão comum em histórias em quadrinhos. A mulher apoia a cabeça na mão esquerda enluvada, e uma bolha de pensamento diz: "M-Talvez ele tenha ficado doente e não pudesse sair do estúdio." Este balão de pensamento, junto com a expressão ambígua da mulher, captura um momento de suspense e introspecção, sugerindo temas de expectativa e decepção. 

Roy Lichtenstein não apenas imita a arte dos quadrinhos, mas eleva-a ao status de belas artes, desafiando as distinções entre arte "alta" e "baixa". A pintura é baseada em uma cena de uma história-em-quadrinhos, desenhada por Tony Abruzzo (1916-1990) e publicada na revista Girl's Romance, edição 110 da DC Comics, de julho de 1965. Lichtenstein reinterpreta esses elementos visuais e textuais de maneira a criar uma nova obra, rica em nuances e significados. 

A técnica de Lichtenstein, com contornos pretos grossos e cores planas e vivas, cria uma sensação de imediatismo e clareza. A expressão exagerada da figura feminina, combinada com o uso de pontos Ben-Day, confere profundidade e dimensão à pintura. A escolha de tinta Magna, que seca rapidamente e tem acabamento fosco, contribui para a estética distintiva da obra. 

M-Maybe exemplifica o movimento Pop Art, que surgiu na década de 1960 e buscou confundir as fronteiras entre a arte comercial e a arte erudita. Ao apropriar-se de imagens de histórias em quadrinhos e da publicidade, Lichtenstein desafiou as noções tradicionais de arte e elevou assuntos cotidianos ao reino da arte erudita. A obra convida os espectadores a considerar a relação entre alta e baixa cultura, bem como a influência da mídia de massa na sociedade. 

A pintura de Lichtenstein e a sua fonte de referência (à direita): cena de uma
história-em-quadrinhos do desenhista Tony Abruzzo.

Na época de sua estreia, M-Maybe gerou debates intensos sobre a natureza da arte. Foi tanto celebrado por sua abordagem inovadora quanto criticado por sua aparente falta de originalidade. Alguns críticos de arte consideravam o trabalho de Lichtenstein derivado e sem profundidade. No entanto, as críticas mais severas vieram de ilustradores de quadrinhos que acusaram Lichtenstein de não dar crédito aos criadores originais dos painéis de quadrinhos dos quais ele se apropriou. Irv Novick e Russ Heath, cujo trabalho foi diretamente referenciado por Lichtenstein, expressaram frustração por ter ganho fama e fortuna ao reproduzir as suas imagens sem o devido reconhecimento.

Contudo, havia uma parcela da crítica que teceu elogios à capacidade Lichtenstein em transformar imagens da cultura de massa em arte conceitual. Com o tempo, a importância de M-Maybe foi amplamente reconhecida, e a obra passou a ser vista como um marco na história da arte contemporânea. 

M-Maybe representa a beleza e a complexidade encontradas em momentos comuns. A obra de Lichtenstein nos convida a olhar mais de perto as histórias e emoções incorporadas na vida cotidiana. Em um mundo saturado de mídia, M-Maybe continua relevante, nos levando a considerar como a mídia molda nossas percepções e emoções. 

Obra de arte pop por excelência, M-Maybe consegue englobar os ideais do movimento e oferece uma narrativa rica e emocional. A pintura de Lichtenstein nos deixa com uma pergunta provocante: como encontramos significado nos aspectos aparentemente mundanos de nossas vidas?

 

Ficha técnica

Título: M-Maybe

Artista: Roy Lichtenstein

Ano: 1965

Dimensões: 152,4 cm X 152,4cm

Técnica: óleo e magna sobre tela

Localização: Museu Ludwig, Colônia, Alemanha

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