-“A Estudante Russa” (1915), Anita Malfatti



Por Sidney Falcão

Após uma temporada de dois anos em Nova York, nos Estados Unidos, a pintora paulista Anita Malfatti (1889-1964) estava de volta ao Brasil em 1917. No período que passou em terras norte-americanas, a artista brasileira ilustrou revistas, fez cursos de desenho, gravura, pintura, aprimorou a sua arte. Na Independent Art School of Art, foi aluna do pintor norte-americano Homer Boss (1882-1956), que tinha um completo domínio da linguagem expressionista, algo raro para um artista que estava fora da Europa naquele momento. Boss foi fundamental nos novos rumos que a arte de Anita estava começando a dar.

Na bagagem que trouxe para o Brasil, ela trazia algumas das obras que iriam provocar uma verdadeira revolução na arte brasileira.

Entre 12 de dezembro de 1917 e 11 de janeiro de 1918, na “Exposição de Pintura Moderna”, em São Paulo, Anita expôs o resultado da sua produção nos dois anos que passou nos Estados Unidos. Os trabalhos expostos estavam totalmente em sintonia com a linguagem das vanguardas da arte européia. Influenciada sobretudo pelo Expressionismo, Anita expôs nessa ocasião as obras mais significativas da sua carreira como “O Homem Amarelo” (1915), “O Farol de Monhegan” (1915), “A Mulher de Cabelos Verdes (1916) e “O Japonês” (1916). Dentre esses quadros, destacava-se também, “A Estudante Russa” (1915).

Anita Malfatti na juventude.

Assim como as outras obras expostas, em “A Estudante Russa” , Anita apresentava uma nova pintura, distante dos padrões rígidos da arte acadêmica que ainda vigorava no Brasil. O quadro é um retrato em estilo moderno, onde uma jovem estudante apresenta-se sentada na sua cadeira escolar. O fundo possui uma colorido irreal, com pinceladas livres e rápidas. Na figura em primeiro plano, Anita mantém o descompromisso em imitar a realidade. O importante para a artista modernista era expressar o lado psicológico dos retratados e utilizar com liberdade a cor e a forma, mantendo-se distante dos padrões clássicos.

Pode-se perceber a liberdade expressiva na coloração da pele da estudante, mais puxado para o amarelo e laranja bem acentuados, contrastando com os contornos e traços escuros que dão forma aos cabelos, aos olhos e ao corpo da jovem estudante. As pinceladas mantêm-se soltas e livres na roupa da estudante e na cadeira.

Se por um lado essa exposição de 1917 foi um marco na arte brasileira, pelo fato desta ser apresentada à Arte Moderna, por outro, essa exposição foi cercada de polêmicas. O público , ainda acostumado com a arte acadêmica, chocou-se ao ver aquelas obras modernistas de cores berrantes e figuras desformes. Para pôr mais “lenha na fogueira”, o escritor Monteiro Lobato (1882-1948) publicou no jornal “O Estado de São Paulo” o artigo “A Propósito da Exposição Malfatti”, no qual, numa postura totalmente conservadora, tece duras críticas aos trabalhos da artista e desqualifica as vanguardas modernistas.

Abalada pelo artigo de Lobato, Anita encontra apoio de amigos artistas e intelectuais que a defendem publicamente, dentre eles, alguns poetas e escritores modernistas como Mário de Andrade (1893-1945), Oswald de Andrade (1890-1954) e Menotti del Picchia (1988).

Apesar da polêmica, com a exposição de 1917, Anita havia plantado a “semente” da Arte Moderna no Brasil. Dela germinaria a Semana de Arte Moderna de 1922, evento que inaugura oficialmente a Arte Moderna Brasileira.


Ficha técnica
Título: “A Estudante Russa”
Artista: Anita Malfatti
Ano: 1915
Técnica: Óleo sobre tela
Dimensões: 76cm X 61 cm

Localização: Coleção Mário de Andrade / Instituto de Estudos Brasileiros 
da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, Brasil

Referências:
História da Arte – Editora Ática (2002), Graça Proença
http://www.itaucultural.org.br 

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