“Nu Descendo Uma Escada Nº2” (1912), Marcel Duchamp.



Por Sidney Falcão 

“A origem é o nu em si mesmo. Fazer um nu diferente do clássico,deitado, em pé, e colocá-lo em movimento. Havia ali alguma coisa de engraçado, que não era tão engraçado quando eu fiz. O movimento apareceu como um argumento para que eu me decidisse a fazê-lo. No “Nu Descendo Uma Escada”, eu queria criar uma imagem estática do movimento: movimento é uma abstração, uma dedução articulada no interior da pintura. No fundo, o movimento é o olho do espectador que incorpora o quadro”Marcel Duchamp em entrevista a Pierre Cabane. 

Nu Descendo Uma Escada Nº2, de Marcel Duchamp (1887-1968), nada mais é do que um nu artístico, tema tão freqüente na História da Arte e retratado por vários artistas ao longo dos séculos. A diferença, é que Duchamp quebra um tabu: pela primeira vez, pinta, numa só imagem, a seqüência do movimento de uma figura nua andando. 

Duchamp já vinha de uma experiência semelhante, com a tela Jovem Triste Num Trem (1911), ao registrar dois movimentos paralelos: o do trem e o do jovem se deslocando no corredor do veículo. Mas foi com Nu Descendo Uma Escada Nº2 feita em 1912, que Duchamp se consagrou. 

Na tela do pintor francês, percebe-se referências à fragmentação do Cubismo e o movimento e dinamismo do Futurismo. A tela se tornou a primeira obra-prima da sua carreira. 

Porém até chegar à consagração, Duchamp passou por alguns percalços. O quadro foi rejeitado no Salão dos Independentes, em Paris, onde estava acontecendo uma exposição de arte cubista. A obra de Duchamp, de tão polêmica, não foi aceita pou um dos membros da banca julgadora, Albert Gleizes. 

Em fevereiro de 1913, a tela foi exposta na 1ª Exposição internacional de Arte Moderna, no Arsenal do 69º Regimento da Cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Pela primeira vez, os americanos, acostumados com a arte acadêmica, tiveram contato com arte de vanguarda européia. Entre obras de Cézanne, Van Gogh, Gauguin, Picasso e de outros artistas, estava a tela de Duchamp, gerando polêmica e espanto. Um crítico do New York Times afirmou que a obra de Duchamp mais parecia uma “explosão de uma fábrica de telhas”. 

Apesar das e das charges satirizando a sua tela na época, Duchamp saiu consagrado da exposição americana, ainda que a partir dali, fosse se afastar cada vez mais da pintura. O artista francês iria busca novos materiais e elementos para expressar a sua arte, como objetos do cotidiano, como cadeiras, rodas de bicicletas resultando em outras obras polêmicas como A Fonte ( um urinol de louça assinado com o pseudônimo “R Mutt” ) e A Roda de Bicicleta ( uma roda de bicicleta presa sobre uma cadeira) e que iriam influenciar toda arte contemporânea do século XX, do Dadaísmo - do qual foi um dos integrantes - passando pela Pop Art dos anos 1960 às perfomence art dos anos 1980. 

Contudo, o ponto de partida foi sem sombra de dúvidas, Nu Descendo Uma Escada Nº2.


Ficha técnica

Título: Nu Descendo Uma Escada Nº2

Artista: Marcel Duchamp

Ano: 1912

Técnica: Óleo sobre tela

Dimensões: 147 × 89,2 cm

Localização: Museu de Arte da Filadélfia, Filadélfia, Estados Unidos


Referências:

"Marcel Duchamp: engenheiro do tempo perdido", Pierre Cabane Ed. Perspectiva,

"Nosso Tempo", vol. I, Klick Editora / Jornal da Tarde 

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