"A Transfiguração" (1520), Rafael Sanzio


A “Transfiguração de Jesus” é uma passagem bíblica do Novo Testamento da Bíblia, no livro de Mateus, capítulo 17, versículos 1 a 13, em que Jesus Cristo e três de seus discípulos, Pedro, Tiago e João, subiram o monte Tabor para orar. Lá, os três discípulos tiveram uma incrível visão de Cristo, numa aparência transfigurada com em vestes brancas e luminosas, conversando com os profetas Elias e Moisés.

Foi baseado nessa passagem bíblica que em 1516, o cardeal Júlio de Médici (1478-1534) - em 1523, se tornaria o Papa Clemente VII - encomendou ao pintor italiano, Rafael Sanzio (1483-1520), um painel para decorar o altar da catedral de Narbonne, na França, cidade para a qual foi nomeado arcebispo um ano antes. O cardeal havia encomendado na mesma época, um painel representando a ressureição de Lázaro ao pintor também italiano, Sebastiano del Piombo (1485-1547).

Piombo finalizou A Ressurreição de Lázaro (atualmente no acervo do Gallery National, em Londres), em 1519, antes de Rafael concluir A Transfiguração, embora os dois trabalhos tivessem sido encomendados pelo cardeal na mesma época. Rafael teria chegado a ver a obra de Piombo, e encarou aquela situação como um desafio, uma competição. Rafael então decidiu fazer uma série de alterações na sua pintura que estava em andamento, se empenhando arduamente.

Além dos personagens centrais da famosa passagem bíblica, Rafael acrescentou na parte inferior da pintura, mais dezenove personagens representando um outro episódio bíblico também presente no Novo Testamento. Trata-se de um episódio relatado em Mateus, capítulo 17, versículos 14 a 20, em que um pai leva o seu filho possuído por um suposto maligno para que os discípulos de Jesus o curassem. Jesus não estava naquele momento porque se encontrava no Monte Tabor. A tentativa de cura por parte dos discípulos foi em vão, e a cura só ocorreu com o retorno de Jesus. Esse mesmo fato bíblico, também é descrito em Marcos, capítulo 9, versículos 17 a 20.

A cena da transfiguração de Jesus acontece na parte superior da obra. Rafael compôs a cena transfigurada de Cristo numa forma triangular imaginária, ainda conservando a simetria renascentista na maneira de compor um quadro. A cabeça de Cristo forma o ângulo superior desse triângulo. Ele aparece luminoso e flutuando na parte central superior da pintura, em vestes brancas e esvoaçantes. Ladeando Jesus, estão Elias no lado esquerdo da pintura e Moisés do lado direito (segurando o que seriam as tábuas com os dez mandamentos), ambos flutuando no ar.


Rafael Sanzio em detalhe de autorretrato de 1506.

A base do triângulo imaginário é completada pelos três discípulos de Jesus: Pedro, João e Tiago. Os três estão deitados sobre o monte, como se estivessem se protegendo do poder emanado pela transfiguração do Filho de Deus. No canto superior esquerdo da pintura, duas figuras despertam curiosidade do espectador: seriam os santos Felicíssimo e Agapito. Mas há quem afirme que se tratam dos santos São Justo e São Pastor, protetores de Narbonne.

Na parte inferior da pintura está a segunda cena. Rafael dividiu essa cena em dois grupos: do lado esquerdo estão os outros discípulos de Jesus, e do lado direito, um grupo de pessoas que acompanham o pai e seu filho manifestado. O menino aparece com os olhos revirados, estaria incorporado por um espírito maligno, mas que na verdade se trataria de um ataque de epilepsia. A busca de cura junto aos discípulos de Jesus é inútil, eles são homens comuns, não possuem poderes para curar ninguém. A expressão do pai do garoto é de completa frustração. O forte contraste do claro escuro na pintura e os gestos teatralizados das personagens, são elementos que prenunciam a pintura barroca que está por vir. Mas o renascentista Rafael já empregava esses recursos com maestria nas suas pinturas.

Rafael teve uma ideia brilhante ao retratar as duas cenas numa mesma pintura, pois uma está conectada com a outra. Com o acréscimo dessa segunda cena, a pintura executada por Rafael ganhou mais em expressividade e magnitude.

A Transfiguração foi finalmente concluída em 1520, pouco antes de Rafael falecer em Roma, aos 37 anos, exatamente no dia do seu aniversário, 6 de abril. Existem especulações de que algumas das figuras de fundo na metade inferior direita da pintura, teriam sido pintadas pelo aluno de Rafael, Giulio Romano, e pelo assistente Gianfrancesco Penni. É provável que teriam pintado porque possivelmente Rafael morreu sem poder concluir ele mesmo a obra. Sua morte precoce foi lamentada por todos, inclusive o Papa Leão X (1475-1521), que tinha uma profunda admiração pelo artista, a tal ponto de ter tentado fazer dele um cardeal.

Uma semana após a morte de Rafael Sanzio, A Transfiguração, executada por ele, mais A Ressureição de Lázaro, de Sebastiano del Piombo, foram expostas juntas no Vaticano. O cardeal Giulio de Médici acabou desistindo de enviar o painel de Rafael para Narbonne, na França, e decidiu manter a obra em Roma, onde foi instalada na Igreja de San Pietro in Montorio.

Em 1797, durante a campanha de Napoleão Bonaparte na Itália, A Transfiguração foi retirada de Roma pelo imperador francês e sua tropa e lavada para Paris, onde foi instalada no Louvre. Napoleão era um admirador da arte de Rafael. O artista italiano exerceu grande influência sobre a pintura da Era Napoleônica. Para Jacques-Louis David (1748-1825), Girodet (1767-1824) e Jean-Auguste Dominique Ingres (1780-1867), Rafael representou a personificação dos ideais artísticos franceses.

Após a queda de Napoleão, em 1815, a obra foi recuperada e levada de volta para Roma, onde encontra-se no acervo da Pinacoteca do Vaticano.

Ficha técnica
Título: A Transfiguração
Artista: Pablo Picasso
Ano: 1520
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 410 X 279 cm
Localização: Pinacoteca do Vaticano, Vaticano, Itália.

Referências:
Masters of Art: Raphael – 2015, Delphi Publishing
www.museivaticani.va
wikipedia

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