"O Beijo"(1908), Gustav Klimt
Por Sidney Falcão
Gustav Klimt (1862-1918) alcançou o ápice de sua carreira
durante o auge da Art Nouveau na Áustria, notabilizando-se por uma mescla
agradável de suntuosidade e erotismo em suas obras, que frequentemente
desafiavam as convenções sociais da Viena da época. Como líder proeminente da
Secessão de Viena, movimento de vanguarda que contestava o conservadorismo
cultural, Klimt contribuiu significativamente para a renovação do panorama
artístico.
A tela O Beijo, pintada em 1908, representa um marco
emblemático nesse período, conhecido como "Período Dourado" do
artista. Caracterizado por figuras humanas envoltas em mantos ornados com
motivos geométricos sobre fundos dourados, este estilo distintivo proporcionou
uma fusão única entre realismo e abstração, evocando, por vezes, reminiscências
da arte egípcia em seus grafismos.
Embora muitas de suas obras desse período possuam uma
presença masculina, é inegável que a figura feminina assuma um protagonismo na
expressão artística de Klimt, revestida de um apelo erótico que transcende o
explícito. O Beijo é frequentemente comparado à Mona Lisa, de
Leonardo da Vinci (1452-1519), em sua riqueza de simbolismos, cujas interpretações
permanecem enigmáticas.
Gustav Klimt e seu gato, na área externa do seu estúdio, em Viena, Áustria, em 1912. |
Neste ícone da arte, um casal é retratado em um momento de
intimidade, embora o erotismo seja insinuado, em vez de explicitamente exibido.
As vestimentas coloridas sugerem uma calorosa sensualidade subjacente, deixando
espaço para a imaginação do espectador. Destaca-se a expressão da mulher, que,
ao contrário das figuras femininas habituais de Klimt, aqui se apresenta
vulnerável e submissa, revelando uma complexidade emocional envolta em desejo e
ambiguidade.
A modelagem para esta obra foi proporcionada pelo próprio
Klimt e sua amante, Emilie Flöge (1874-1952), cuja influência como proprietária
de uma butique de alta costura em Viena marcou sua presença na burguesia local.
Com o advento do Expressionismo na virada do século XX, o
"Período Dourado" de Klimt chegou ao fim, dando lugar a uma abordagem
artística mais simplificada e contemporânea. Influenciado pelas correntes
vanguardistas emergentes, Klimt abandonou os tons dourados em favor de uma
paleta mais discreta após sua visita a Paris em 1909, onde teve contato com
obras de mestres como Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901), Henri Matisse
(1869-1954) e Vincent Van Gogh (1853-1890). Esta transição marcou não apenas
uma mudança em seu estilo, mas também um legado duradouro para a história da arte,
consolidando Klimt como uma figura central na evolução da estética moderna.
Ficha técnica
Título: O Beijo
Artista: Gustav Klimt
Ano: 1908
Técnica: Óleo e folhas de ouro
sobre tela
Dimensões: 180 X 180 cm
Localização: Österreichische
Staatsgalerie, Viena, Áustria
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