“O Derrubador Brasileiro” (1879), Almeida Júnior


Por Sidney Falcão 

Natural da cidade de Itu, interior paulista, José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899) bem que poderia ter sido tão somente mais um humilde lavrador na pacata cidade onde nasceu. O fato de ter nascido com o talento para a pintura, abriu portas para o jovem artista, que através da ajuda daqueles que acreditavam na sua arte na cidade natal, custearam a sua viajem ao Rio de Janeiro, onde foi estudar na Academia Imperial de Belas-Artes, tendo como seus mestres, gente do quilate de Victor Meirelles e Pedro Américo, dois legendários artistas da pintura acadêmica brasileira.

Concluído os seus estudos, retornou a Itu - e por sorte ou destino – durante a passagem de D.Pedro II por aquela cidade, o imperador encantou-se com a sua arte e o agraciou com uma espécie de bolsa de estudos para aprimorar a sua arte na Europa. Foi estudar na École National Supérieure des Beaux-Arts, em Paris, França, onde foi aluno de Alexandre Cabanel (1823-1889).

Foi na sua estadia em Paris que Almeida Júnior executou “O Derrubador Brasileiro”, uma das suas mais importantes obras. O quadro é um típico exemplo da arte de Almeida Júnior, que retratava em suas obras o universo rural e a vida cotidiana do povo brasileiro. Mesmo tendo frequentado importantes academias de artes, estudado no exterior, suas origens interioranas pareciam intactas na sua memória. O campo estava presente na sua mente e na sua alma de artista.

Almeida Junior num autorretrato. 

Em “Derrubador Brasileiro” vemos um homem repousar encostado numa grande rocha, após exercer um árduo trabalho. Descansa com seu cigarro de palha entre os dedos da mão direita e olha tranquilamente o pequeno riacho que corre entre as pedras. O homem que descansa é forte, rude, de aparência cabocla, a face do homem brasileiro, mestiço, nem branco e nem índio. A musculatura definida, as mãos grosseiras, os pés grandes e sujos, refletem muito bem o trabalho duro e braçal desse homem.

“O Derrubador Brasileiro” foi exposto pela primeira vez em 1880, no Salão de Paris. No Brasil, o quadro teve a sua primeira apresentação pública em 1882, quando o artista regressou ao paí e fez uma exposição individual das suas obras na Academia Imperial de Belas-Artes, no Rio de Janeiro.

Alguns críticos de arte acreditam que durante o período em que esteve em Paris, Almeida Júnior teria visto os quadros de Gustave Coubert ( 1819-1877 ), o mestre da pintura realista que retratava a vida cotidiana das pessoas mais humildes e sem posses. O mestre francês exerceu uma forte influência na arte do jovem pintor brasileiro.

Considerado o pioneiro do Realismo na pintura brasileira, Almeida Júnior trouxe para a pintura brasileira todo o universo da vida do campo, algo muito incomum na arte acadêmica à qual ele estava inserido. Ao levar para a pintura a vida cotidiana do povo brasileiro, Almeida Júnior prepararia terreno para o nacionalismo na arte brasileira que teria seu auge durante o modernismo no século XX, presente nas obras de Tarsila do Amaral ( 1886-1973) e Cândido Portinari (1903-1962).

Ficha técnica
Título: “O Derrubador Brasileiro”,
Artista: Almeida Júnior
Ano: 1879
Técnica: Óleo sobre tela
Dimensões: 225 X 185 cm
Localização: Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro, Brasil

Referência: revista "Nossa História", ano I, n°08, 2004, Editora Vera Cruz

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